Crenças e Dor: como o que você acredita influencia no tratamento da dor

Você sabia que as crenças do seu paciente influenciam diretamente sua saúde? 

Um recente editorial publicado por O’Sullivan et al intitulado Back to basics: 10 facts every person should know about back pain no British Journal of Sports Medicine (31/dez/2019 – doi: 10.1136/bjsports-2019-101611) relata que a dor lombar é a principal causa de incapacidade em todo o mundo, tem um alto custo e muitas vezes os cuidados praticados são ineficazes e até prejudiciais. 

E lança a pergunta: O que determina esta incapacidade e estes cuidados ineficazes? A resposta para esta questão são as denominadas CRENÇAS LIMITANTES, e estão associadas a maiores níveis de dor, incapacidade, faltas ao trabalho e uso de medicação e procura por ajuda médica. 

Interessante né?! 

Mas você sabe o que são crenças? Uma crença é aquilo que afirmamos acreditar e agimos como se fosse uma verdade, quer seja ou não. São baseadas em experiências passadas e moldam reações futuras, trazendo consequências, porque agimos de acordo com elas. Inclusive geram consequências bioquímicas, como no caso de nos sentirmos ameaçados por algo, disparamos toda uma química no nosso corpo que nos prepara para lutar ou fugir – o famoso ‘modo de sobrevivência’. 

Porém, nem sempre esta ameaça é real. Como quando ficamos imaginando ‘o que pode acontecer’ em determinada situação e logo em seguida já sentimos aquele frio na barriga e o coração disparar, não é verdade?

Neste editorial que citei acima, estão descritas dez crenças limitantes mais comuns em  pessoas com dor lombar, vamos a elas?

  1. Dor lombar é usualmente uma condição médica séria.
  2. Dor lombar se tornará persistente e piorará com a idade.
  3. Dor lombar persistente sempre está relacionada a dano tecidual.
  4. Exames de imagem são sempre necessários para detectar a causa da dor lombar.
  5. Dor relacionada ao exercício e movimento é um sinal de dano a coluna e deve ser interrompido ou modificado.
  6. Dor lombar é causada por má postura ao ficar sentado, levantar ou ficar em pé.
  7. Dor lombar é causada por fraqueza dos músculos do core e ter um core forte protege contra a dor lombar.
  8. Uso repetido da coluna resulta em desgaste e danos aos tecidos.
  9. Aumento da dor é um sinal de dano tecidual e é necessário repouso.
  10. Tratamentos como medicações fortes, injeções e cirurgias são necessários para tratar dor lombar.

Como já comentei, as crenças moldam nossas reações futuras e nossos comportamentos, então algumas crenças que não nos ajudam, nos levam a comportamentos limitantes (por isso chamamos de CRENÇAS LIMITANTES). Comportamentos como: evitar algumas posturas naturais da coluna, movimentos como a flexão da coluna e atividades básicas como pegar algum peso, fazer exercícios, convívio social e atividades de vida diária e trabalho.

Estas crenças limitantes podem levar a comportamentos de SUPER PROTEÇÃO como o movimento lento e cauteloso. Além disso pode levar a pessoa a optar por intervenções biomédicas e/ou invasivas na tentativa de aliviar os sintomas (fármacos, infiltrações, correção de estruturas supostamente danificadas) buscando uma relação cartesiana de causa e efeito.

Estas crenças limitantes no caso da dor lombar podem contribuir para uma mentalidade negativa, levando a um estado de VIGÍLIA com relação a dor, medo de se envolver em atividades e preocupações com o futuro. Soma-se ainda a falta de auto eficácia e habilidades adaptativas para auto gerenciar efetivamente estes fatores, prejudicando também a saúde mental da pessoa (por exemplo causar estresse, ansiedade e depressão).

Estes estados de vigília, medo, preocupação, estresse, ansiedade e depressão podem aumentar a experiência de dor já que a definição de dor atual é a dor ser uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a um dano real ou potencial aos tecidos.

A dor é um sistema múltiplo de saída ativado por uma neuromatriz de dor específica e individual sempre que o cérebro percebe alguma ameaça. Ou seja, a dor é uma DECISÃO TOMADA PELO CÉREBRO.

Não parece claro que as pessoas que vivem com dor se sentem ameaçadas? Mas, como podemos ajudá-las?

O primeiro passo é DESMISTIFICAR o que elas acreditam através da educação em dor! Vamos aos FATOS REAIS:

Fato 1: Dor lombar não é uma condição médica de risco de vida.

Fato 2: A maioria dos episódios de dor lombar melhoram (e não pioram) com a idade.

Fato 3: Uma mentalidade negativa, comportamento de evitação por medo, expectativas negativas e pouca capacidade de lidar com a dor são comportamentos que estão mais fortemente associados com dor persistente, do que efetivamente lesões nos tecidos.

Fato 4: Exames de imagem não determinam o prognóstico.

Fato 5: Exercícios e movimentos realizados de forma gradual em todas as direções são seguros e saudáveis para a coluna.

Fato 6: A postura sentada, ao levantar e em pé não é preditiva de dor lombar ou de sua persistência.

Fato 7: A fraqueza do core não causa dor lombar e algumas pessoas com dor lombar tensionam excessivamente seus músculos do core. O que é útil para manter os músculos do tronco forte, mas também ajuda relaxá-los quando não são necessários.

Fato 8: Movimentos da coluna e cargas são seguros e constroem resiliência estrutural quando graduados.

Fato 9: Aumento do nível de dor está mais relacionado nas mudanças em atividades, stress e humor do que com danos estruturais.

Fato 10: O tratamento eficaz da dor lombar é relativamente barato e seguro. Isso inclui: educação centrada no paciente, promover uma mentalidade positiva, além de treinar e educar profissionais da saúde para otimizar os aspectos físicos e a saúde mental dos pacientes (como participar de atividades físicas, atividades sociais, hábitos saudáveis ​​de sono e peso corporal, e permanecer no trabalho).

Citei este editorial sobre dor lombar, mas serviria para outros “rótulos” que são dados aos pacientes, como fibromialgia, síndrome miofascial, síndrome da fadiga crônica e tantos outros. 

TE CONVIDO A TRATAR O SEU PACIENTE, NÃO O RÓTULO como descrito no recente artigo publicado por Louw et al. (2019). Treat the Patient, Not the Label: A Pain Neuroscience Update. 

Se já sabemos que as crenças têm um papel bastante relevante nas dores, o que está nos impedindo de ajudarmos nossos pacientes nesse sentido? Serão nossas próprias crenças?

Além de aprendermos sobre os novos conceitos em dor, precisamos melhorar nossa habilidade de comunicação com nossos pacientes, tendo em vista que JÁ ESTÁ COMPROVADO que a forma como falamos pode disparar a sensação de ameaça, medo e aumentar o nível de dor dentre outras repercussões já citadas. 

Outra questão bastante importante é que as crenças limitantes podem ser trocadas por CRENÇAS EXPANSIVAS e que irão colaborar na cura da dor. 

Um bom exemplo com relação a isso é o que acontece no EFEITO PLACEBO que poderia até ser chamado de “efeito-crença” uma prova da habilidade de cura da mente/corpo. O que pensamos e sentimos gera uma química no nosso corpo que pode ser tóxica ou pode nos curar. E o que acreditamos tem um papel fundamental na nossa saúde ou na nossa doença. 

E o mais incrível é que isso é uma escolha! 

Podemos escolher como desejamos sentir-nos diante de qualquer fato ou situação da vida! Quer saber como? A Programação Neurolinguística e a Comunicação Generativa tem algumas chaves para modificar estas questões.

Na minha prática clínica, enquanto estou atendendo meus pacientes com Liberação Miofascial Integrativa uso também recursos da Programação Neurolinguística e da Comunicação Generativa para ajudá-los a escolher crenças que sejam mais saudáveis para suas vidas. 

Continuo sendo fisioterapeuta, mas com outras habilidades, que se mostram muito úteis para atuarmos realmente de uma FORMA INTEGRAL na nossa prática clínica.

E você, o que pensa sobre a relação das crenças com a dor? Responda nos comentários! =) 

Para saber mais sobre esse assunto, clique aqui e assista o vídeo que fiz no Youtube esclarecendo ainda mais essa questão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *