TRILHOS ANATÔMICOS – O que são e porque aprender

por Andréia Kisner

O que são Trilhos Anatômicos e por que aprender sobre eles?

Se alguma vez ao longo da sua carreira você ouviu falar que tudo está conectado e isso despertou em você o desejo de saber COMO, este texto é para você.

Muitas vezes eu me fiz esta pergunta e encontrar as respostas foi um caminho árduo que ainda estou trilhando. Mas sinceramente, os Trilhos Anatômicos simplificaram significativamente esta jornada.

Quer dizer que saberei TUDO quando aprender sobre eles? Não, mas é um ótimo caminho para quem já percebeu que nós, seres humanos, somos muito complexos para aceitarmos que somos apenas “a soma de nossas partes.”

fonte: Trilhos Anatômicos – Thomas Myers

E aqui vai um resumão de onde veio este conceito, por quem foi desenvolvido, com qual objetivo e como podemos usá-lo na nossa prática diária.

Essencialmente, o mapa dos Trilhos Anatômicos fornece uma “anatomia longitudinal” – um esboço das faixas e das correias de tração longa das bolsas miofasciais. Trata-se de um ponto de vista sistêmico.

A maioria de nós aprendeu anatomia de uma forma particionada, vemos o músculo em sua origem e inserção, inervação e vascularização, mas não pensamos em suas conexões com os segmentos abaixo e acima.

A visão amplamente aceita é a de que os músculos se inserem de um osso para outro, e que sua única função é aproximar as duas pontas, ou resistir quando são alongados em demasia. Assim, acabamos tendo uma idéia reducionista de que a complexidade e estabilidade do movimento humano pode ser obtida pela soma da ação destes músculos individuais. Os Trilhos Anatômicos nos trazem um conceito sistêmico e nos colocam em um modelo “fora da caixa” do pensamento do padrão de músculos isolados.

Quando compreendemos os padrões dos meridianos miofasciais e suas conexões, percebemos que eles podem ser facilmente aplicados na avaliação e no tratamento. Através de uma simples parada para olharmos a estrutura do corpo dos nossos pacientes e /ou alunos já é possível fazermos uma leitura de quais “cabos” miofasciais estão presos em contração concêntrica ou presos curtos e quais “cabos” miofasciais estão presos em contração excêntrica, ou presos longos. A própria alteração no posicionamento da estrutura do corpo vai nos mostrar onde precisaremos intervir. Ou seja, liberar os “presos curtos” e ativar os “presos longos”.

O conhecimento sobre os Trilhos Anatômicos nos conduz a uma percepção mais tridimensional da anatomia musculoesquelética, e a uma valorização dos padrões de todo o corpo, ao distribuir compensações no dia a dia e no desempenho funcional. Do ponto de vista clínico, isso nos leva a perceber como problemas dolorosos em uma parte do corpo podem estar relacionados a uma área “silenciosa” muitas vezes distante do problema.

De forma prática, este conceito nos traz um caminho para encontrarmos as reais causas das disfunções dos nossos pacientes e/ou alunos. Por exemplo, tive vários pacientes com dor no ombro ao longo da minha carreira, e aprendi diversos protocolos de avaliação e tratamento de ombro.

Mas só compreendi que a maioria das disfunções de ombro ocorrem em razão do posicionamento da caixa torácica, depois de compreender a anatomia de forma conectada. Concluindo, abordar estruturas entre as costelas e a caixa torácica pode trazer excelentes resultados nas disfunções do complexo do ombro. E pude testar isso na minha prática clínica diária. Então muito mais do que um conceito, os Trilhos anatômicos ampliam a nossa visão e nossos resultados crescem exponencialmente. E qual profissional não deseja melhores resultados?

Novas estratégias para o tratamento podem surgir a partir deste ponto de vista da “anatomia conectada”, nos desafios práticos diários da terapia manual e do movimento.

Use os Trilhos Anatômicos para compreender o amplo padrão das relações estruturais dos seus clientes e aplique as técnicas que você tem a sua disposição para resolver este padrão.

A exigência atual é menor para novas técnicas, porém maiores para novas idéias que conduzem a novas estratégias de atuação. Os Trilhos Anatômicos são uma dessas possibilidades, uma forma global de olhar para padrões musculoesqueléticos, e esta forma pode nos levar a novas estratégias de tratamento integrativas, que nos levam para “além dos sintomas”.

Por que se chamam TRILHOS ANATÔMICOS? Thomas Myers encontrou uma forma divertida de correlacionar os “caminhos” de intercomunicação miofascial com trilhos de trêm, estações e bifurcações.

A palavra “miofascia” designa feixes ligados uns aos outros de natureza inseparável do tecido muscular (mio) e sua rede de tecido conjuntivo (fáscia). Os Trilhos Anatômicos nos mostram os caminhos de conexão dessas estruturas ao longo do corpo humano, preenchendo a necessidade atual de uma visão global da estrutura humana e do movimento.

São caracterizados por se apresentarem como linhas que passam tensão, facilitando o movimento e proporcionando estabilidade através da miofáscia do corpo ao redor do esqueleto. Esta linhas de tensão afetam a estrutura e a função do corpo, e uma abordagem terapêutica bastante completa pode ser montada a partir das doze linhas descritas por Thomas Myers.

O conceito dos Trilhos Anatômicos surgiu da experiência de ensino de anatomia miofascial de Thomas Myers, para diversos grupos de terapeutas “alternativos”, incluindo os terapeutas da Integração Estrutural no Rolf Institute, massoterapeutas, osteopatas, parteiras, bailarinos, professores de ioga, fisioterapeutas e profissionais da educação física ao redor do mundo. Myers foi persuadido a escrever pelo Dr. Leon Chaitow e estas idéias aparecerem primeiro no Journal of Bodywork and Movement Therapies, em 1997.

Desde então, o conceito de que a fáscia conecta todo o corpo em uma “rede infinita” vem cada vez mais conquistando os terapeutas manuais e do movimento. E os Trilhos Anatômicos nos mostram COMO estas conexões são distribuidas por todo corpo humano. Mas Myers fala “este livro é apenas o início de uma resposta…” à perguntas feitas pelos seus alunos de “como exatamente, estas coisas estão conectadas”, ou “algumas partes são mais conectadas do que outras?”, ou se em uma dor de ombro persistente, por exemplo, devemos concentrar nosso trabalho nas costelas, quadril ou o pescoço.

Thomas Myers é pioneiro em descrever as continuidades miofasciais completamente. Há também semelhanças com as cadeias musculares (chaines musculaires) de Françoise Mézière (desenvolvidas por Leopold Busquet).

Estas cadeias musculares são baseadas em conexões funcionais – que passam, por exemplo, a partir do quadríceps através do joelho até o gastrocnêmio e o sóleo – enquanto os Trilhos Anatômicos baseiam-se em conexões fasciais diretas. Myers fala que a principal diferença é que as conexões funcionais musculares se relacionam com movimentos específicos e momentâneos, e as conexões da “trama” fascial dos Trilhos Anatômicos, são mais permanentes e posturais.

A “fáscia” não nos deixa em zona de conforto, porque as respostas do corpo são alineares, as reações de causa e efeito não são mais suficientes para explicarmos tudo e precisamos como terapeutas manuais e do movimento ampliarmos nossa visão para o TODO. Então, além de atender somente a lesão, precisamos analisar o todo e depois intervir no todo.

COMO? Trilhos Anatômicos são a resposta para muitas destas questões.

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