400 Anos de ‘Músculo Isolado’ até os Trilhos Anatômicos

O tecido fascial é uma rede que está presente em todo o corpo. Questões sobre a transmissão de força miofascial tem estado em nossos pensamentos por muito tempo. E sem compreender esta questão, será difícil entender a função muscular completamente.

Nos últimos quatrocentos anos, nosso principal guia no entendimento do movimento tem sido o conceito de “músculo” (Vesalius, 1548). Aprendemos que nosso movimento é gerado pela interação entre forças geradas por cerca de 600 músculos trabalhando em contração concêntrica, excêntrica ou estática. As ações musculares têm sido definidas, principalmente, em termos de sua origem e inserção em ligamentos ósseos.

Pensando de forma mais sistêmica, à luz de pesquisas recentes, este conceito de “músculos isolados” está desatualizado, embora tenha sido útil para chegarmos até aqui. Agora está claro, por exemplo, que músculos também se ligam a outros músculos ao longo de suas laterais (Huijing, 2007).

Estes novos conceitos alteram nosso pensamento sobre a transmissão de força e o movimento eficiente. Os músculos também se ligam e afetam os ligamentos próximos. O epimísio também se liga aos nervos e feixes neurovasculares que “servem” esse tecido muscular.

Os Trilhos Anatômicos mapeiam estes caminhos de interconexão miofascial capazes de transmitir força, pelo menos, na estabilização do movimento e na compensação postural de uma unidade miofascial para outra, ao longo dessas linhas. Essas linhas para se tornarem ativas, devem seguir uma mesma direção e uma mesma profundidade, e as ligações podem ser miofasciais ou mecânicas, como no caso da Linha Superficial Anterior.

Plastinarium – Apresentação incrível da anatomia humana

Thomas Myers descreveu até hoje doze (12) caminhos de interconexão miofascial ao longo do corpo humano. Considero estes mapas como sendo meu GPS para o desenvolvimento do raciocínio clínico integrativo.

Ao mesmo tempo, romper um paradigma de 400 anos é extremamente desafiador, porém necessário.

Estes novos conceitos “pedem” uma nova forma de pensarmos em anatomia e biomecânica. E isso mudará, nossas abordagens terapêuticas, avaliações, como desenvolvemos as práticas através do movimento e também como vemos os seres humanos.

Talvez agora você pense:

– Meu Deus, é muita coisa e é muito complexo!

Minha dica: comece logo, faça simples, cresça rápido.

Vamos lá?

Referências

Yucesoy CA. Epimuscular myofascial force transmission implies novel principles for muscular mechanics. Exerc Sport Sci Rev. 2010;38(3):128-134. doi:10.1097/JES.0b013e3181e372ef

Garofolini A, Svanera D. Fascial organisation of motor synergies: a hypothesis. Eur J Transl Myol. 2019;29(3):8313. Published 2019 Aug 8. doi:10.4081/ejtm.2019.8313

Wilke J, Krause F, Vogt L, Banzer W. What Is Evidence-Based About Myofascial Chains: A Systematic Review. Arch Phys Med Rehabil. 2016;97(3):454-461. doi:10.1016/j.apmr.2015.07.023

Schleip, Robert. Fascia no Esporte e no Movimento. São Paulo. Ed. Manole 2019.

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